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não volta mais

saudade de sentar na praça, observar o movimento repentino das coisas, ouvir as folhas caindo do meu lado enquanto o vento chega. beber água no bebedouro solitário, lavar meu rosto e questionar a vida. ouvir música repetida com apenas um lado do fone, ajustar os cadarços que insistem em soltar a cada corrida, sentir dor no dedo médio porque o tênis ainda não laceou. dor no peito causada por dias de inercia, respiração errada. a vista vale à pena, o sol laranja parece uma pintura borrada ao fundo, não enxergo muito bem, o suor cobre meus olhos, mas eu também comprei um óculos, faz tempo que não utilizo. minha cachorrinha quebrou a lente, eu não vi no dia, ela mastigou a armação. mais música repetida, dessa vez são mais agitadas, me dão força para continuar trotando, posso fingir que não sinto dor enquanto grito o refrão, sinal vermelho, um ciclista quase me atropela, pude ouvir o som do freio, não parecia estar bom, eu o disse para ajustar aquilo. os cadarços desamarram novamente, caio no chão, o sol já foi embora e não me avisou, sinto que o vendo gelado chega com força, estou apenas de regata, essa já molhada e grudada ao corpo devido ao suor anterior. não aguento mais essa música, a bateria acabou porque está viciada, não consigo correr sem ouvir meu refrão, prefiro voltar andando, meu joelho está ralado, maldito tênis.


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